quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Buddy

Ver o teu tórax a expandir a cada inspiração que fazes. Ainda respiras, ainda estás aqui.
Temo por todas as vezes que subo as escadas do prédio e não te ouço a miar quando estou a chegar à porta, ou quando a abro e tu ainda não estás lá, todo ansioso pela minha chegada.
Noites difíceis, noites longas, noites intermináveis em que o descanso fica cada vez mais longínquo, porque só consigo pensar quando vais chamar por mim, quando vais dar o sinal de que precisas de mim, como tens feito nas passadas e inúmeras noites. Porque eu tenho de estar lá, eu preciso de estar lá.
Estás aqui mas quase que já não estás. Vais-te afastando, como se te estivesses a despedir aos poucos.
Sofres mas eu não consigo amenizar a tua dor, porque tenho medo que te deixem ir e eu quero que fiques.
Porque és a minha única companhia. Porque és o ser que simplesmente está presente e que  me acalma, que me abstrai dos dias menos bons. Porque és o peluche que me dá aconchego.
Dizem: "mas é só um gato". Eles não sabem mesmo o que dizem. 
Eles não sabem o que é afeiçoarmo-nos a um ser como tu, a habituarmo-nos à presença constante durante anos e anos (14). Ver-te crescer, criar-te, brincar contigo, educar-te, adormecer contigo e acordar de igual forma. Tratar-te como uma criança que sempre foste. O ser ternurento que sempre precisou de carinho, de atenção, de companhia.
Mas ver-te envelhecer, dói. Limpar todas as asneiras que fazes sem conseguir ficar chateada e só frustrada, dia após dia... Ouvir cada miar diferente e reconhecer que é porque estás mal, que algo não está bem, que é isto ou aquilo... Apenas dói.
É chegar a casa e viver para ti, porque o que eu quero mesmo é que vivas.
Eu sei que não tem sido fácil, mas, por favor, aguenta só mais hoje.
Eu preciso de ti.
Ainda não estou pronta para te deixar ir.

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